Mais do que um excelente preparo físico, a São Silvestre exige boa estratégia e controle psicológico. Na véspera da 84ª edição da tradicional disputa pelas ruas da capital paulista, alguns dos atletas que já cruzaram a linha de chegada na primeira colocação recomendaram calma no início do percurso de 15 km para chegar com energia suficiente nos momentos decisivos.
O brasileiro Emerson Iser Bem foi o único atleta capaz de romper a hegemonia do queniano Paul Tergat, pentacampeão entre 1995 e 2000. Ex-lavrador e entregador de leite, ele se manteve entre os primeiros colocados com um ritmo forte e bateu o rival que lutava pelo tricampeonato apenas na entrada da Avenida Paulista, no ponto alto da São Silvestre de 1997.
"Tem que tomar cuidado com o começo da prova muito forte. Nem todos conseguem sustentar esse ritmo competitivo do meio para o final. Desde o começo dos anos 90, a gente tem visto que o pessoal que exagera e sai muito forte na largada é surpreendido no final por alguém que ninguém espera", disse o atleta, lembrando da própria vitória sobre Paul Tergat. "Da lista de dez favoritos, pode ter certeza que uns quatro vão quebrar", completou.
Hoje treinador, Iser Bem verá cerca de 30 de seus alunos na disputa da São Silvestre. As esperanças do ex-corredor estão depositadas em Luiz Paulo Antunes, bicampeão da Gonzaguinha. "Quem quer vencer tem que andar na frente o tempo todo, porém é possível fazer uma corrida conservadora no começo e pegar quem quebra no final. No dia da prova, você tem que sair o mínimo possível da sua rotina", receitou.
Maria Zeferina Baldaia usou a estratégia ditada por Iser Bem para conquistar o título da edição de 2001 da São Silvestre. Sem a queniana Lydia Cheromey, campeã no ano anterior, ela viu o favoritismo ser assumido por Margaret Okayo, então campeã da Maratona de Nova York. Com fôlego nos quilômetros finais da prova, a brasileira superou a rival do Quênia e subiu no lugar mais alto do pódio.
"A largada é muito rápida e muitos saem desesperados", disse Baldaia. Em busca do bicampeonato da São Silvestre, ela veio de Ribeirão Preto para São Paulo na tarde desta segunda-feira. "As meninas que vão brigar pelo pódio vão estar um pouco para trás até o terceiro, quarto ou quinto quilômetro. É ali que a prova realmente começa", explicou a atleta.
Hoje presidente da Federação de Atletismo de Brasília, Carmen Oliveira fez história em 1995 ao romper um tabu de 20 anos de domínio estrangeiro e se tornar a primeira brasileira a ganhar a São Silvestre. Depois de disputar a prova pela primeira vez em 1984, ela colecionou quatro vice-campeonatos nos anos de 1985, 1990, 1992 e 1993 e marcou presença nos Jogos Olímpicos de Barcelona e Atlanta.
"A estratégia da vitória é não perder as favoritas de vista. Assim que a líder der um passo, tem que pisar logo atrás, como um aviso de que está chegando", receitou Oliveira, responsável por abrir caminho para Roseli Machado, Maria Zeferina Baldaia, Marizete de Paula Rezende e Lucélia Peres.
"O atleta tem que estar bem preparado. Eu vejo a São Silvestre como prova de velocidade, não somente de resistência", afirmou.
O último brasileiro a vencer a prova foi Franck Caldeira, campeão na temporada de 2006. Ele chegou como principal favorito para a 82ª edição da São Silvestre e não decepcionou. Sem grandes dificuldades, o atleta dominou a prova durante praticamente todo o percurso. Ao desembarcar em São Paulo vindo de Minas Gerais nesta segunda-feira, ele deu dicas para quem pretende apenas se divertir na corrida.
"Para o amador, o importante é prestar atenção no que foi feito de treinamento e não exagerar no ritmo. A alimentação e o descanso são importantes. Tem que tomar cuidado nos três primeiros quilômetros e não fazer muita força, porque no final tem uma subida terrível. Sentiu que não dá, pára ou vai até onde der, pense na próxima, terão várias São Silvestres", afirmou o corredor que busca o segundo título.
Gazeta Press
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